Lendo e ouvindo a música


Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Minha tia Emília

Daqui para frente, vou rebuscar no fundo das minhas lembranças, o que pude observar em relação às tias, que me autorizaram a titular o assunto com o gracioso título de “A dinastia das Tias”.E vem aí então, a primeira tia, “a tia Emília”. Não pensem vocês ser ela a mesma daquele programa infantil, do “Sítio do Pica Pau Amarelo”. Esta era com certeza, a figura da tia que mais me impressionou. Era tia de minha mãe, alta, esguia, sisuda, só vestia roupas pretas e com bordados em branco.Era uma viúva convicta, sempre de salto alto, sempre de chapéu e usava um véu no rosto, a perfeita dama antiga. Eu, ainda criança, ficava muito impressionado, quando a minha mãe anunciava sua chegada. Eu então, dava uma corrida até a porta, e ainda tinha tempo de observar, ela toda cheia de pose, descendo do carro de aluguel, que a trazia, sempre que nos visitava. O clima da minha casa mudava, minha mãe me avisava - olha lá meu filho, não fale demais, para não dizer muita coisa, que ela possa ficar nervosa ou preocupada, ela é pessoa muito exigente, ela foi casada com meu tio Júlio, irmão do teu avô, que era um diplomata, que viveu no exterior, na embaixada brasileira na França. Ele foi o responsável pelo meu nome de batismo, “Hermance”, um nome de origem francesa - .E eu então, muito comportado eu pedia a sua benção, e ficava de olho nela, observando ela retirar das mãos, a luva de couro preta, pendurar a sombrinha no porta chapéus, e levantar o véu do rosto e me observar dizendo -ô “Mancinha”, como este menino esta “magrinho” - e olhando para mim dizia - deixe-me ver as suas mãos, e berrava com uma voz rouca, que unhas sujas menino, vá lavar estas mãos! Se não eu não te dou, as balas que trouxe para você- . Eu já sabia, o que ocorreria em seguida - minha mãe me chamava, e me dizia vai correndo até a padaria e traga um daqueles pães-doces, grandes e bonitos, para eu servir um lanche para ela, traga também, duzentos gramas de queijo minas e um pacote de manteiga. Lá iria eu então, para trazer feliz, as coisas que iriam compor o nosso lanche. E assim, durante todo o tempo, em que ela lá estava, eu a admirava e observava sua postura, sua colocação de voz, seu jeito de sentar. Era o tipo da mulher chique e vaidosa, a verdadeira emergente da elite social, que ali se fazia presente e que depois de conversar e saber de minha mãe, as novidades, abria a sua bolsa e me dava uma nota de dez mil reis, dizendo que era para eu comprar o que quisesse.. Dito isso, pedia que eu fosse à esquina parar um carro de aluguel, para que fosse embora. Antes de sair repetia sempre a mesma frase - fique sempre assim, menino, muito bonzinho, para ser um grande homem!

(Jorge Queiroz da Silva - fevereiro/2009)

Fonte da imagem:greenbanquito.blogspot...

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