Lendo e ouvindo a música


Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O serviço público, uma incerteza


O nosso desalmado serviço público fornece ao povo e às instituições a insegurança e deixa de dar garantias àqueles que fazem uso das suas operações. O funcionamento da máquina de governo foi prejudicado e sempre deixou transparecer a incerteza e a insegurança. As medidas da privatização do nosso governo, custaram muito a surgir, pois já deveriam ter sido tomadas há bastante tempo. O meu testemunho foi como usuário e está relacionado à utilização das ferrovias no Brasil. Quando trabalhei na Indústria Cimenteira, tive que fazer uso do sistema de transporte ferroviário,pois a fábrica foi implantada no Município de Vespasiano a setenta quilômetros de Belo Horizonte. Teríamos a necessidade da utilização desse meio, para abastecimento dos terminais de ensacamento em São Miguel Paulista, SP e Praia Formosa, RJ e para isto fizemos os necessários contatos burocráticos para oficialização do uso dos armazéns, onde obrigatoriamente guardaríamos os sacos de cimento, sob o pagamento de uma taxa de capatazia, mensalmente estipulada em contrato. A Indústria era a mais nova no mercado e oriunda de tecnologia européia e, portanto, não conhecedora do jeitinho brasileiro. Foi consultada pelos líderes e chefes de estação nos percursos BH/RIO e BH/SP, quanto seria acrescido de gratificação para cada um deles nos carregamentos de cimento para cada vagão despachado. Ficamos devidamente indignados, mas fomos obrigados a levar ao conhecimento da Diretoria Comercial aquela proposta indecente. A Chefia se negou a aceitar tal pedido e disse que nas principais Cidades do mundo jamais tinham tido esse tipo de problema e autorizou os nossos departamentos a iniciarem o trabalho de expedição, a nível de Brasil, correndo os riscos graves da dominante corrupção. E que riscos!... No primeiro despacho, preparou-se uma carga de vinte e seis vagões lotados de cimento com destino ao terminal de Praia Formosa no Rio de Janeiro e os vagões realmente saíram de Vespasiano, mas aqui no Rio de Janeiro, simplesmente não chegaram. Foram desviados em Santos Dumont e ficaram escondidos num atalho da linha férrea sem nenhuma segurança. Para indignação da Diretoria da Empresa, teve-se que negociar a tal gratificação, por fora, para que se pudesse restabelecer a normalização dos serviços de transportes que seriam feitos pela ferrovia em questão. Quanta vergonha nós brasileiros sentimos, trabalhando para aquele grupo estrangeiro, em relação ao incidente do desaparecimento do primeiro comboio de cimento que a fábrica estava comercializando. E, finalmente, para acabar definitivamente com esse problema que afetaria os custos de venda, a tal Indústria foi obrigada a optar pela montagem de terminais de ensacamento em todas as Cidades onde tinha instalado seus escritórios comerciais. Após aproximadamente um ano, as coisas ficaram mais controladas, porque todo o transporte de cimento passou a ser feito em vagões graneleiros da própria Empresa em condições técnicas especiais para ensacamento em principais pontos de venda. Esse episódio foi o primeiro dos inúmeros que ainda iriam surgir em nossas diferentes áreas de trabalho. Habitualmente ouvíamos de nossos patrões comentários de que o nosso país era uma brincadeira e que o Charles de Gaulle estava coberto de razões em suas considerações sobre o Brasil. Ainda tivemos que considerar que a empresa para a realização de tal obra, foi vítima de um investimento da ordem de vinte milhões de dólares para a montagem das estruturas de três novos terminais de ensacamento.
(Jorge Queiroz -abril/2009)
Fonte da imagem:estou-sem.blogspot.com

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