Lendo e ouvindo a música


Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

sábado, 4 de julho de 2009

Mais outra lembrança da infância...

Eu era um menino de mais ou menos sete anos de idade.
Estava em casa sozinho, e fui alertado pela minha mãe para que não abrisse a porta para ninguém.
Disse-me ela que estava saindo de casa e que devia demorar um pouco mais que o normal.
Recomendou-me que ficasse quieto e aproveitasse o tempo para ler um livro de estória qualquer, sugerindo outras opções de divertimento, como ouvir músicas ou novelas no rádio. O importante era que eu me distraísse enquanto ela estivesse fora, porque naquele dia não poderia me levar junto.
Com um beijo de despedida, frisou mais uma vez, para que eu não abrisse a porta pra ninguém!
Optei por pegar meu caderno de desenhos e trabalhar um pouco até ela voltar.
Estava eu na metade do meu desenho, quando alguém bateu palmas em nosso portão.
Lembrando da recomendação de minha mãe, segui para a janela da sala.
Um senhor desconhecido estava em pé próximo ao portão e após os cumprimentos de praxe, perguntou-me sobre a noiva.
Indeciso, eu respondi que era o filho da dona da casa e que não sabia de nenhuma noiva.
O homem insistiu dizendo que perguntava sobre a noiva do casamento que iria se realizar ainda naquela noite, repetindo que a Igreja Matriz do Bom Jesus da Penha já estava lotada e que o padre se encontrava no altar esperando a noiva para realizar o casamento.
Sem saber o que dizer, perguntava de novo ao senhor: que noiva? que casamento?
Muito nervoso, o homem repetia que a noiva do casamento seguinte já havia chegado e a que morava no meu endereço não aparecia, tanto que o padre o mandou correndo lá em casa, para buscar a tal noiva.
A cada negativa minha, o senhor ficava mais nervoso. Complementou que as coisas estavam feias por lá, na Igreja, porque o padrinho dessa tal noiva que ia casar e que não chegava, era o deputado Tenório Cavalcanti, o da metralhadora Lurdinha.
É ele que está lá, brigando com o padre, que disse que não vai mais realizar o casamento. Repetia que as outras noivas estavam chegando e o padre esperando a noiva lá de casa.
Como sentiu que eu não sabia de nada, resolveu voltar à Igreja e enfrentar o padre, contando o que apurou de mim.
E eu cá com os meus botões, pensei: -que homem maluco!
Voltei para o meu desenho e fiquei no aguardo de minha mãe chegar para contar toda a estória.
Duas horas depois chega minha mãe e eu conto toda a confusão.
Minha mãe rindo muito, pediu-me desculpas por não ter me falado nada e esclareceu o ocorrido.
O fato é que minha prima Maria Paula, que era moradora de Duque de Caxias, pediu o nosso endereço emprestado para se casar nesta Igreja. Ela achou que não haveria nada de mais. O problema é que houve um desastre na saída da Cidade, que causou um engarrafamento de mais de duas horas, fazendo com que a noiva se atrasasse.
A noiva, coitada, estava muito assustada e se não fosse o deputado Tenório Cavalcanti, o padrinho, o padre não teria feito o casamento de maneira nenhuma.
Mas ela não podia deixar de auxiliar o sonho da prima, que conheceu o noivo naquela Igreja, e ali queria realizar seu casamento.
Feliz por ter feito sua boa ação, minha mãe me prometeu nunca mais me deixar de fora dos assuntos dos adultos.

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