Lendo e ouvindo a música


Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O grande perigo, o emprego descartável!

Assusta-me, apavora-me, sentir que uma grande Nação deixe seu povo sem ocupação.
Lamento sentir meu filho desempregado e com toda a vontade de criar. Desgosta-me ver a sede de nossos jovens à procura de uma formação, uma especialização e a falta constante das soluções prioritárias que mostrem um caminho para a segurança de um país, que tem tudo para ser a maior nação do mundo.
Tudo isto, me faz pensar que a violência é fruto desse desemprego.
Os envolvimentos com o crime arrastam com facilidade os nossos jovens, quando não os conduzem ao vício e ao tráfico de drogas.
Há algum tempo atrás eu imaginava que a violência iria alcançar todas as camadas sociais, e atualmente, ela já atingiu a todas elas, tornando cada vez mais impossível a tão desejada solução.
Vou aqui relembrar um episódio acontecido comigo na década de 1970, que se por acaso voltasse a acontecer, me traria muitos problemas em relação a seu desenvolvimento, se lembrarmos que naquela época o desemprego não alcançava os níveis de hoje.
Estava eu, trabalhando na construção civil, era o administrativo e financeiro, responsável pelo fluxo de caixa e programações de pagamentos.
Num determinado dia, após realizar a quitação de um débito de compra de madeiras, fui consultado pelo funcionário que fazia o recebimento, se eu não aceitaria trabalhar para eles, e eu respondi, que motivos eu teria para abandonar um trabalho que me apoiou, numa seleção entre vinte candidatos, me tirou de um desemprego e dava todas as condições de sustento a mim e a minha família?
Mesmo assim, nada do que eu disse fez o sujeito desistir, e insistindo muito, perguntou-me quanto ganhava. Respondi e ele contra atacou,dizendo que tinha uma excelente proposta para mim. - Vamos pagar muito mais e tê-lo conosco. Não custa nada pensar nisso e comparecer para uma reunião no nosso escritório central.
Esse oferecimento me fez coçar a cabeça, me aguçou a curiosidade, e mais ainda quando ele completou que sabia que eu trabalhava de Segunda à Sexta-feira, e ia aguardar a minha presença no Sábado seguinte, pois iam promover uma reunião com toda a diretoria da empresa, para decidir o meu ingresso.
Pensei duas vezes e disse que ia até lá para analisarmos juntos a situação. Perguntei sobre o horário e ficou marcado às 09.00 horas da manhã.
Finalmente naquele sábado que seria uma encruzilhada na minha vida, para lá segui, e ficando surpreso com a forma como o sujeito me apresentou ao grupo: - eis aí o homem que vai resolver todos os nossos problemas administrativos e nos fazer seguros financeiramente. Depois das apresentações de praxe, eles pediram para seguir de carro até a tal fabrica.
Perguntando onde estava situada eles pediram que eu aguardasse para ver. Já então, espantado, pude visualizar, o tipo físico de cada diretor da empresa.
Eram ao todo, quatro verdadeiros alemães, de altura média de l,85 metros. Todos com olhos claros e queimados pelo sol.
Saímos do prédio, e por ser um Sábado, na porta do edifício, estava o carro que nos transportaria até a tal fábrica, um carro preto com vidros fumê, um modelo ideal para os mafiosos.
Entramos então no carro e eu fui colocado no banco traseiro, entre dois dos diretores, ficando na frente, os dois outros.
Minha cabeça começou a trabalhar, minha mente aquecia e a minha vontade era saber para onde eu estaria sendo levado.
Após o carro arrancar, tentei iniciar um processo de observação para saber exatamente, para onde eles me levavam, mas todo esse meu esforço, foi em vão.
Os camaradas não me davam nenhuma trégua, e eu recebia um verdadeiro bombardeio de perguntas, em relação ao meu conhecimento administrativo e sobre todas as minhas experiências profissionais, o que dificultava a minha visão do trajeto.
Assim sendo, tive que me contentar em observar somente as principais vias, por onde transitávamos.
E a minha cabeça trabalhava, e eu pensava, aqui ainda é a Av. Brasil, agora já pegamos a Presidente Dutra,e em que quilômetro estamos?
Eu me perguntava e o tempo passava, já estamos com mais de duas horas de viagem, para onde estou indo?
Após mais trinta minutos de angustiante viagem, finalmente o carro entrou num dos entroncamentos da Via Dutra, numa daquelas estradas de barro, cheias de costelas, e um horizonte verde de mata fechada se abriu à minha frente.
Descendo morro e subindo morro, a cada minuto, o nervosismo aumentava, e eu já transpirava por todos os meus poros.
Quando afinal ao subir um destes morros, vislumbrei uma enorme fábrica com serrarias enormes, caminhões circulando a sua volta, e um número enorme de obreiros com alguns capatazes. O carro encostou no pátio e logo à frente da casa da fazenda, estava a sede da administração daquele complexo industrial clandestino.
Por certo, uma empresa fora de todos os conceitos da lei, que não deveria fazer parte dos registros de qualquer junta comercial que se preze.
Aí então, comecei a entender o porque do oferecimento de um salário tão elevado, eu por certo seria um escolhido testa de ferro, para um grupo de empresários fraudulentos e imediatamente, eles começaram a colocar para mim, você vai passar a ser um dos nossos, aquela casa da fazenda vai ser colocada no seu nome e o incluiremos em nosso contrato social, onde anotaremos todos os seus direitos trabalhistas.
Em dado momento, perguntaram quando eu iria trabalhar com eles. Respirei fundo e pensei com os meus botões, que tinha que iludi-los mantendo de pé a intenção de que aceitaria a proposta.
Pedi um prazo de sete ou dez dias, para regularizar a saída da empresa e eles concordaram. Com a promessa de não deixar de procurá-los após aquele período, retornamos ao Rio de Janeiro.
Entrei então num longo processo de crise mental e fingindo-me de morto, nunca mais os vi, e jamais fiz qualquer contato com os tais empresários, contrabandistas em potencial, e eles também, jamais me contataram, graças a Deus!

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