Lendo e ouvindo a música


Fofas


Desenhos de Jorge Queiroz da Silva

sábado, 31 de março de 2012

Lembrando da força infantil na Segunda Guerra mundial...

Guerra mundial, uma profunda miséria. Que o homem, daqui para frente, não pense em criar, nada mais parecido no mundo. “Adolfo Hitler”, deixou vários maus exemplos, e mesmo, depois de tanto tempo do seu término, a guerra só serviu de marco à violência e às aberrações sociais. Quem sabe, talvez, todas as conquistas que colaboraram para o avanço tecnológico, pudessem ter sido de um preço bem mais suave, para toda a humanidade. Nós, brasileiros, tão distantes do campo de batalha, tivemos mesmo assim, o destino de sofrermos, a sua grande influência, no atraso da nossa economia, quando até fomos forçados a enviar tropas para a Itália, num acordo firmado com os aliados da ONU! Até nós, ainda crianças esperançosas naquela época, tínhamos muito medo de vermos, os nossos pais envolvidos, mas mesmo assim, fomos obrigados a participar indiretamente. Fomos orientados nas nossas escolas, e a nós cabia a obrigação de darmos a nossa colaboração, formando as famosas ”Pirâmides”, que eram erguidas nas esquinas das ruas e eram compostas de latas, borrachas, alumínio, zinco e madeira velha. Ainda por cima, tínhamos que participar do racionamento da gasolina, do racionamento do açúcar, do racionamento da farinha de trigo, todos estes produtos distribuídos por cotas, inerentes ao número de pessoas da família, e ainda a conviver, com o racionamento da energia elétrica, e a participar quase que diariamente, dos ensaios dos blackouts. Éramos, constantemente, ameaçados por uma expectativa de invasão do nosso território. E toda essa tensão, durou de 1938 a 1945. Só após a explosão da primeira bomba atômica, em Hyroshima e finalmente a da segunda, em Nagasaki, o que provocou a rendição das tropas da Alemanha, terminou o inferno. Uma pena que muitos inocentes japoneses, foram vítimas dessa única solução das forças aliadas! Ainda assim, o Brasil, indiretamente nessa Guerra, pode ser considerado como um território protegido pelo nosso bondoso Deus, pois todas as ofensas que recebemos durante todo o período, foram apenas no aspecto político e social, não nos afetando fisicamente, o que nos deu tranquilidade para continuarmos, no rumo do nosso crescimento como nação independente.
(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)
Fonte de imagem:ludy-quadrinhosdisney.blogspot.com

sexta-feira, 30 de março de 2012

A liberdade da comunicação


Eu ainda criança, não compreendia a falta de liberdade na comunicação, que me fazia ficar revoltado, e sem poder entender, como aconteciam a invasão dos carteiros dos “Correios”, nas residências.Eles adentravam, acintosamente, para contar a dedo, quantos aparelhos de rádio, nós possuíamos em nossa casa.Eu , por não aceitar aquela intromissão, sempre perguntava a minha mãe, os motivos daquela invasão do carteiro, e ela sempre me explicava dizendo, que com a invenção e a difusão do rádio no mercado mundial, nos éramos obrigados a pagar uma taxa, para cada rádio adquirido, e teríamos sempre a obrigação, de registrarmos aqueles aparelhos na sede dos Correios, pois o Governo alegava, que os rádios roubavam as notícias internacionais, que até então chegavam, e eram dadas pelos “Correios”.Assim, o Governo se sentia lesado , pois ganhava dinheiro com elas, mas mesmo assim, eu não concordava com aquela invasão!Felizmente, o Governo em razão dos protestos que o povo fazia, resolveu modificar a sua atuação invasora, e deu fim ao projeto que instalou aquela forma ridícula de procedimento.Isto foi, por certo, um dos indicadores, de que vivíamos uma Ditadura, que pesou na vida política do então presidente Getúlio Vargas.

(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)

quinta-feira, 29 de março de 2012

A poesia do ladrão de galinhas de outrora

Naquela época, vivíamos os tempos dos fartos galinheiros, o orgulho da gente mais humilde, que fazia suas reservas, para o sustento da família.Era a mesma época, em que se trocavam os legumes e as verduras cultivadas nos quintais de nossas casas.Era também a fase do “ladrão de galinhas”, que interferia nas economias alheias.Todo bom chefe de família, que se prezava, tinha o seu bom galinheiro, e sua pequena plantação, e, por sinal , na minha casa, não era diferente. Papai criava galinhas, patos, porcos, perus, cabritos, se preparando sempre para as grandes festas de terreiro, que ocorriam no decorrer de todo o ano, pois, além de gostar muito de reuniões festivas ele era um exímio e compenetrado cozinheiro.Ainda me lembro muito bem, do dia em que um ladrão de “galinhas”, entrou em nossa casa, se apossando e levando todas as nossas grandes e afortunadas frangas, deixando o galo no galinheiro, com um cartaz pendurado em seu pescoço com os dizeres, de uma marcha carnavalesca, que não parava de tocar nas rádios, “ Ôpa, homem não!!!”,Eu, criança, ria muito daquela história, e da revolta do meu pai , tão indignado, que prometia pegar aquele sem vergonha, e pendurá-lo numa das árvores, com o mesmo cartaz. A revolta do meu pai ainda se acentuou por estarmos próximo da Semana Santa.Eu , num daqueles dias, já tinha montado o meu “JUDAS”, para malhar, no Sábado de aleluia. Meu pai, que trabalhava, e só chegava em casa pela madrugada, naquele mesmo dia , vendo o vulto daquele homem, encostado em uma das árvores do nosso quintal, se apressou em malhar a pau, aquele que ele julgou, ser um novo ladrão de galinhas.Ao acordar , a indignação e a decepção,foram minhas.
(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)

Fonte da imagem:br-gospel.blogspot.com

quarta-feira, 28 de março de 2012

O "MOA"


O mundo em geral, segue caminhos de mudanças e o desemprego vai se instalando, a tecnologia vai avançando, suprimindo assim, a mão de obra. Com isso, cresce a passos largos, o mundo da necessidade e da fome e nós, brasileiros, ainda não sabemos a que mundo, realmente nós pertencemos - se ao primeiro, ao segundo, ao terceiro, ou quem sabe, ao quarto mundo que, com certeza já deve existir, mas a gente não sabe onde fica. Fala-se muito no Brasil, do jeito baiano de viver - ô xente! -Dizem que o baiano, nada quer com a hora do Brasil! Mas a televisão, nos dias de hoje, nos mostra exatamente o contrário, mostra uma Bahia crescendo na área agrícola e na indústria dos manufaturados. A fama do baiano é antiga, e eu me lembro da cidade de Salvador, principalmente ao redor do seu porto, onde os baianos, ficavam sentados na beira das calçadas. Ali, se você necessitasse de um carregador, para ajudar nas descargas da alfândega ou para carregar a sua mala, ficaria totalmente perdido se fizesse a ele o seguinte convite - “ô rapaz, quer ganhar algum dinheiro, ajudando a descarregar minha carga ? – Receberia como resposta - ô moço! eu não quero não, prefiro continuar pitando aqui o meu velho cigarro de palha! – E eu só vim a entender o espírito da coisa, bem mais na frente. A Bahia só está crescendo por causa do Carnaval de rua, que lhe trouxe um forte turismo, a proliferação da água de coco e a mudança do termo “bunda” para “tchan”, que obrigou com certeza o baiano a se levantar da beira das calçadas, para mexer com as cadeiras . Conheci um sujeito , o “MOA” que no inicio da sua vida, foi igualzinho ao baiano. Era um jovem, com dezoito anos completos, que tinha o primeiro grau concluído. Naquela época era muito estudo, e como diploma. Ele trazia uma carteira de motorista profissional, no bolso traseiro esquerdo de sua calça. Sentava-se, diariamente, na beira de uma calçada, na frente de sua casa e ali, tragava o seu cigarro durante todo o dia. Eu, que com quinze anos de idade, já trabalhava, passava por ele e dizia - ô Moa, você não vai trabalhar não? – Pacientemente, como todo baiano, ele retrucava - só trabalho se o emprego for muito bom, e eu, muito bem remunerado! - E assim, o Moa carioca, vivia a sua vida de baiano. Durante cerca de mais ou menos três anos, ali, sentado na beira da calçada, ele aguardava o tal emprego, muito bom e muito bem remunerado. Ele dizia, sempre com muita confiança, que a mãe lhe dava comida e o pai, roupa e cigarros, total razão para que não ficasse correndo atrás de um emprego vagabundo. E não é que o cara estava certo? Num determinado dia, uma prima do “Moa” que trabalhava na embaixada americana como secretária executiva, fez uma proposta para ele - ô primo, quer ir trabalhar na embaixada? vou fazer de você, o motorista do vice-consul , o administrador geral da embaixada, e seu salário vai ser pago em dólar. Só existe uma diferença, você não ficará em regime de lei trabalhista brasileira, mas sim norte-americana, você aceita ? - Claro que o MOA aceitou o emprego dos seus sonhos. Vejam vocês jovens, a vida do Moa, não serve mais de exemplo. Já passamos da época do “QI” (quem indica). Hoje, trabalho só com muita tecnologia, estudo e aplicação prática. Não vai adiantar nada ficar sentado na beira da calçada, pitando o seu cigarrinho,pois MOA, só existiu UM!

(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)

terça-feira, 27 de março de 2012

Dona Venina, a neta da princesa Leopoldina

Ela era neta da princesa Leopoldina, a dona “ VENINA”, e eu a via como uma das raras e várias figuras do folclore da minha rua. Em primeiro lugar, vale lembrar que ela era a mais antiga milionária do local, uma senhora já quase setentona, bastante imponente. Ela era a feliz possuidora, de quase todas as casas da rua do Cajá, onde eu residia. E era ali, na extensão de todo o lado direito da rua, que ela vivia num palacete avarandado e luxuoso com a sua família. No local existia um excelente pomar de frutas, criação de cavalos, um ranário e um lago para peixes. Ela fazia a sua renda da locação dos imóveis, que ocupavam toda a faixa direita da rua. Nós éramos seus antigos inquilinos, por morarmos numa destas casas, eu a conhecia, como a “senhoria” de minha mãe, mas ela tinha, uma admiração especial pela minha mãe, e por qualquer mal estar, ou qualquer, outro motivo, ela a chamava as pressas, fosse para rezá-la, pois ela tinha uma crença muito grande, nos guias espirituais de minha mãe, ou para escrever uma carta, ou fazer o seu jogo de bicho, onde sempre ela arriscava uma fèzinha. Por este laço íntimo de amizade e fé, eu vim a saber mais tarde, que ela teria deixado de cobrar alguns aluguéis a minha mãe. Diziam as más línguas, que isto foi por mais de vinte anos, e além de minha mãe ser uma dedicada serva, nos seus cuidados pessoais, como sendo a sua dama de companhia, ela ainda fazia uso das visões de minha mãe, e gostava das previsões em copo com água, que minha mãe fazia, para predizer as coisas que para ela, poderiam vir a acontecer , e assim fazia um uso constante , da corrente oriental de vidência, de que minha mãe era merecedora . E esta amizade durou, até o dia do seu falecimento, e afirmo que era uma amizade de fazer inveja a muita gente ali na rua. Quem não queria ser amiga fiel, da neta da Princesa Leopoldina? Seu nome , após sua morte, foi dado a uma rua da localidade .
(Jorge Queiroz da Silva - agosto/2009)
Fonte da imagem:cdeassis.wordpress.com

segunda-feira, 26 de março de 2012

Dona "Ana Maneta", um tipo inesquecível


Outra personalidade da época, no meu mundo infantil, era a dona “Ana Maneta”. Era assim chamada, pois teve um acidente de trabalho no campo, vitimada por uma foice, nos trabalhos de agricultura. Ela tinha um sítio, que ao me lembrar, me faz pensar, no bem-estar que eu sentia, quando era menino e onde eu ia quase que diariamente, comprar verduras e frutos, fresquinhos e arrancados do pé na hora, pela dona Ana. Era ali, que estava representada a mais pura plantação de frutos, e hortaliças que eram vendidas a todos os moradores da região. Era um verdadeiro celeiro, e lá , eu podia sentir o forte cheiro da natureza, num brejo sombrio e resfriado por um riacho que cortava todo o seu sitio. Como eu gostava de sentir o cheiro do verde, e por sorte, eu ia lá quase que diariamente, buscar as coisas que minha mãe me pedia. Naquele sítio, um grande terreno que ocupava mais de 100 lotes de terra, herdado dos seus pais, que eram velhos lavradores, e que viviam exclusivamente da agricultura, ela sustentava toda a família. Hoje no local, infelizmente só existem prédios de apartamentos, e ela, uma humilde lavradora pelo empreendimento que lá foi feito, virou naquela época, proprietária de dez apartamentos, que passou para filhos e netos, tornando-se uma pobre senhora rica, muito trabalhadora e totalmente analfabeta ! Não sei se ela ainda vive, posso até garantir que já deve ter falecido. E a lenda contada pelos moradores antigos do local, era que naquele terreno dela, se hospedava o demônio, história esta, que era sempre confirmada, pela mais antiga beata da região, a dona Maria Santa, que se dizia, muitas vezes perseguida por ele, e que ele sempre depois de saltar o muro, que fazia divisa entre as ruas Dionísio e Cajá, tentava impedir que ela chegasse até a igreja, para poder preparar, a missa diária da paróquia do Senhor Bom Jesus da Penha, pois normalmente, saía de casa, ainda de madrugada, por volta das cinco da manhã! E esta história, que ela contava, marcava sobre maneira, todas a crianças da localidade, que em alguns momentos se reuniam próximo do tal muro, para desafiarem o demônio., o que por certo seria uma obra de pura imaginação.

(Jorge Queiroz da Silva - agosto/2009)

domingo, 25 de março de 2012

Mais um tipo inesquecível


Era uma senhora oriunda do interior de Minas Gerais, dona de uma prole respeitável e que morava na mesma rua em que eu morava. Ninguém se interessava em saber seu nome. O povo da localidade no início, só a identificava como sendo uma lavadeira que lutava pela vida. Souberam que num determinado dia a sorte havia lhe sorrido, pois o seu marido, que era um ajudante de pedreiro, por ter adquirido, um bilhete da loteria federal, foi contemplado, com a chamada “sorte grande”. Desse dia em diante, essa senhora, que era bem pobre, cheia de filhos , que lavava muitas roupas para fora e sempre descia a rua com enormes trouxas de roupas na cabeça, sumiu do cenário, por um determinado tempo, chegando a fazer as pessoas pensarem que ela havia morrido. Qual o que, quando ela voltou..., desfilava imponente pelas ruas, exibindo elegantes trajes acompanhados de desafiadores saltos altos, que ela mal sabia conduzir. Em companhia do marido, o ex ajudante de pedreiro, que também passou, a trajar belos ternos, de alta costura com lindas gravatas e chapéu de panamá importados, ia ela se fazendo notar.Passaram, por isso, a despertar uma grande curiosidade, das fofoqueiras vizinhas, que ficavam tentando descobrir, a qualquer preço, o motivo da grande mudança. Elas, que antes nunca, se preocuparam em saber o seu nome, foram se chegando devagar para perguntar porque ela havia mudado da " água para o vinho". Com surpresa,receberam daquela que era uma humilde lavadeira, a seguinte resposta: - vocês de agora em diante..., podem me chamar de “quinze contos”, pois o meu marido, ganhou no mês passado, o primeiro prêmio da Loteria Federal. Tirou a sorte grande. Depois desse dia, só se ouvia falar, naquela região, lá vem, “quinze contos, para cá, quinze contos, para lá”, e a antiga lavadeira passou a tirar uma onda, com todas as maiores curiosas do bairro! Eu, menino ainda, ficava sem entender nada, pois para mim “quinze contos”, era nome de dinheiro e não de uma pessoa!

(Jorge Queiroz da Silva - agosto/2009)

sábado, 24 de março de 2012

O homem que embrulhava dinheiro em jornal


Filho de um famoso major, político do local e irmão do primeiro educador da região, o meu primeiro professor e dono da primeira escola da localidade, o senhor Laureano, marcou a minha infância. Milionário, era dono de muitas casas na rua onde eu morava, aquela mesma rua, onde a neta da Princesa Leopoldina, era a principal herdeira de quase todos os imóveis. Ela dominava em posses,quase toda a rua do lado direito, e sobravam ainda muitas residências do lado esquerdo, que pertenciam ao senhor Laureano. Ele, além de ser dono de um frigorífico de carnes, ainda mostrava o seu poder com uma vantagem sobre a dona Venina, pois todos os imóveis de sua propriedade eram de construção recente, elaborados pelo seu próprio grupo construtor. Como proprietário das várias casas daquela região, ele disputava com a dona “Venina”, o título de o mais rico da região. Diariamente, ele proprio, fazia o recolhimento da féria de suas lojas e para despistar os gatunos, ele andava com pacotes de dinheiro, fruto da arrecadação da venda dos açougues, embrulhados em jornal. Sempre que chegava nos bares, após realizar esta arrecadação, ele largava os pacotes de dinheiro, em qualquer lugar, para não chamar atenção. Assim, segundo ele, desvalorizava a soma de dinheiro que conduzia. Eu era colega de infância do filho dele, que na classe, era o último aluno, mas que hoje tem uma clínica médica muito famosa, com o diploma comprado pelo pai, a peso de ouro. O senhor Laureano era um impressionante milionário, que já dizia naquela época, que dinheiro comprava tudo...

(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)

sexta-feira, 23 de março de 2012

O quitandeiro e sua mulher bonita


Outra figura, por demais simpática, era do dono da quitanda, o senhor Waldemar, o verdureiro mais famoso do bairro. Tinha sempre muito boas frutas e excelentes legumes. E sua quitanda, estava sempre cheia de moças e rapazes, por que além da sua simpatia e do seu perfeito atendimento, era casado com uma das mulheres mais lindas do local. Mal comparando com os dias de hoje, se pareciam com os casais famosos de novelas, tamanho era seu entendimento. Era ali, naquela quitanda que se faziam os encontros sociais da localidade, onde se instalavam serenatas e se combinavam as festas. Por todos estes motivos, o senhor Waldemar, estava ficando rico e bem conhecido, sempre vendendo mercadorias de primeira qualidade. Com sua simpatia, ele crescia dia a dia, no conceito dos moradores. No entanto, num determinado dia, para tristeza de todo o bairro, o valente e famoso comerciante, que sempre saia de casa para o mercado, para realizar a suas compras, pela madrugada,na sua caminhoneta, amanheceu, assassinado a tiros, a quase dez metros da esquina de nossa rua. Foi um assassinato feito a sangue frio, haja vista seu peito perfurado a balas. Constatou-se que não foi latrocínio, pois a polícia o encontrou de posse de dinheiro e pertences. O fato trouxe muita tristeza para o povo do bairro, que tentava encontrar um motivo para o acontecido. Como a língua do povo aumenta, mas não inventa, soube-se que o assassinato teria sido um crime passional. Após a venda do negócio, um mês depois da sua morte, sua linda mulher, largando os filhos, ainda pequenos com sua mãe , havia fugido com um jovem rapaz, o suspeito assassino e habitual freqüentador da quitanda.

(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)

quinta-feira, 22 de março de 2012

A cura pelo Dr. Serrote


O “doutor” Serrote,era uma pessoa com quem convivi muito na infância. Ele era responsável pela saúde das inúmeras famílias residentes no meu bairro e curava todo e qualquer tipo de doença, ajudando as famílias carentes daquela época. Com o seu apurado conhecimento da flora, fazia, como ninguém, o uso adequado das ervas. Invadia as florestas das cercanias, formando seu grande arsenal de ervas medicinais e, de casa em casa, ele oferecia os seus serviços médicos. O que mais impressionava as crianças, era a sua curiosa maneira de se vestir. Apresentava-se sempre de calças listradas, camisa branca de colarinho engomado e com botões dourados, além de um fraque negro, cartola preta e bengala com cabo de prata. Usava cavanhaque, monóculo, luvas brancas e portava anéis, com significados das correntes mediúnicas do Oriente. Tinha também um grande relógio de bolso com uma grossa corrente. Em suas costas, ele portava um saco de linhagem branco, totalmente cheio de ervas, e dependurado em seu cinto, um brilhante serrote, sempre limpo, sua principal ferramenta de trabalho. Assim, aquele ser “humano especial”, cultivava a amizade de toda a rua e conquistava, os olhares de todas as donas de casa. As crianças, o tinham como um “Deus”. Era muito comum eu ouvir a minha mãe dizer - quando o “doutor” Serrote, passar por aqui, eu vou resolver o problema da sua doença – Eu, criança ainda, ia aumentando, dia a dia, e cada vez mais, a minha admiração pela figura tão terna de um ser humano, diferente, que era o mais perfeito representante de Deus, na minha visão de criança feliz e bem intencionada.
(Jorge Queiroz da Silva - agosto/2009)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Uma forte lembrança, o meu eterno "calça chinelos" !


Uma grande lembrança o retorno e a reencarnação confirmada do meu famoso “CALÇA CHINELOS”, que aqui vou agora tentar reproduzir com fidelidade nesse meu testemunho, .Com certeza hoje eu posso afirmar, o meu CALÇA CHINELOS, voltou pra minha vida.Eu era uma criança muito feliz, filho de pai e mãe igualmente carinhosos e dedicados, e que fazia parte de um cerco familiar constante.Era deles, o filho querido e o único herdeiro.E assim eu chamava o meu pai – calça chinelos.Eu tinha a maior admiração pelo meu valente e suave herói, e que pela grande responsabilidade do seu trabalho, sem turnos previamente estabelecidos e determinados na sua vida profissional diária, vivia uma dança maluca de horários, que nunca deram condições para eu e a minha mãe termos a liberdade de marcar projetos pessoais, que envolveriam a presença do nosso tão amado provedor, pois ele gerenciava serviços de guarda e abastecimento da gasolina, durante a época da Segunda Guerra mundial.E esta forma de eu chamá-lo se prendia única e exclusivamente a observação que fiz por ocasião dos meus três anos de idade, quando notei que meu pai quando calçava os chinelos, ele com certeza ficaria em casa, e não retornaria mais para o serviço, e isso elucidava para mim em definitivo, a presença dele em nossa casa.E daquele momento em diante, eu passei então a importunar sempre a minha mãe, pois todas as vezes que ele vinha para casa e não calçava os benditos chinelos, eu ficava atrás de minha mãe, repetindo para ela varias vezes, mãe mande o papai calçar os chinelos, o que fazia ela ficar nervosa, e repetir que o calça chinelos dela era eu, que com aquela mania, lhe tirava sempre o sono. E assim os anos decorriam, e a coisa se tornou uma brincadeira diária entre nós três.Depois, tudo o que eu tinha do meu sonho de vida,foi embora, quando o meu querido companheiro, foi vitimado por um violento colapso cardíaco, vindo a falecer aos trinta e sete anos, ainda na flor da idade.Como minha mãe sempre me dizia que ele nos deixou, pois foi levado por Deus, por ter recebido uma missão muito especial, palavras aquelas que ela não cansava de repetir, eu não quis de forma nenhuma testemunhar aquela partida e me recusei a ir ao seu sepultamento, pois falei para minha mãe, que só queria ter em minha mente, a ultima lembrança dele, o meu “CALÇA CHINELOS”, sempre vivo e bem feliz.E naquela crença eu andava pelas ruas a partir dos meus onze anos, desde o dia em que ele nos deixou secretamente carregando comigo a esperança de um dia esbarrar com ele por aí.E o tempo passou, as coisas aconteciam, e eu já havia casado e na época de nascer o meu filho caçula, o meu terceiro filho, cheguei junto de minha mãe e aproveitando que ela havia me dito que após trinta anos do falecimento de uma pessoa ela já tinha a alma pronta para a reencarnação, quis que ela confirmasse aquela afirmação.Minha mãe estranhou o porque da minha pergunta e eu lhe expliquei que juntamente com o nascimento do seu terceiro neto, completariam trinta anos da morte do meu pai. Quis que ela me dissesse da possibilidade de ele estar voltando no meu terceiro filho.Aí então ela falou, quem sabe meu filho, mas com certeza o nosso pai maior já sabe quem vem por aí, vamos torcer meu filho que seja ele de volta.E vejam vocês, o que me aconteceu, nasceu o Marcelo, logo dentro do tempo dos trinta anos no período da falada reencarnação.E vejam vocês o que acontece pra mim - meu filho Marcelo completa os três anos de idade, exatamente a mesma, em que eu comecei a exaltar o meu “CALÇA CHINELOS” - e eu chego em casa depois de um dia de trabalho, e fico calçado de sapatos, e nem reparo meu filho me rondando, e então de repente meu filho olha para mim, e energicamente, grita alto: -pai, CALÇA CHINELOS !Diante daquilo, eu quase cai duro no chão.Será que depois dessa eu ainda precisaria de outra confirmação?Hoje eu convivo outra vez em perfeita harmonia com o meu novo e sempre jovem CALÇA CHINELOS, que com certeza, por tudo o que vivemos, me afirma ser o velho “CALÇA CHINELOS” de volta outra vez!

(Jorge Queiroz da Silva - agosto/2009)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Minha primeira viagem de bonde

Eu só tinha nove anos, e ia fazer minha primeira viagem de bonde, pois seria através desse transporte que eu iria diariamente para o Colégio Brasileiro de São Cristóvão. Estava determinado. Eu sairia na companhia do meu pai até o terminal de bondes, ali, meu pai me deixaria e pegaria o trem para o trabalho, e eu, seguiria para o Colégio. Apesar de todos os conselhos e alertas de minha mãe foi muito forte para mim, fazer a minha primeira viagem sozinho. Lá fui eu. Minha mãe tinha me avisado, que quando o condutor do bonde (cobrador) passasse fazendo a cobrança, e dizendo, a frase “faz, favor...” eu teria que pagar a passagem, que naquela época, correspondia a dez centavos. Sentei- me no canto da grade, para admirar a paisagem, e fiquei daí por diante atento à passagem do condutor que faria a cobrança da passagem. O cobrador chegou, e gritou alto para o pagamento, o célebre “faz favor”, que a minha mãe havia me alertado .Aí eu já com a moeda na mão, estendia na direção dele, pagava e respirava fundo, mas aí então, o cobrador fazia várias vezes, o mesmo trajeto, para cobrar as pessoas, que estavam constantemente embarcando, e ainda não teriam pago. Mas como eu ignorava aquele fato, cada vez que o condutor passava, eu pagava de novo a passagem, como que obedecendo, as instruções da minha mãe, pois ela não me dissera, que eu só teria que pagar quando ele dissesse “faz favor” pela primeira vez. Ela esqueceu do detalhe, que ele passava várias vezes dizendo, “faz favor”, mas pela graça de Deus, o condutor percebeu, que eu ignorava, e que só teria que pagar a passagem uma vez, e ele me disse “ô menino”, você só deve pagar a passagem na primeira vez que eu passar, se não você vai ficar sem dinheiro, para voltar para casa e para sua merenda na escola! E eu então contei isto a minha mãe, ela riu muito com a minha ignorância, mas pelo que achei , eu estava rigorosamente atendendo uma instrução dela!
(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)

Fonte da imagem:rebs.com.br

domingo, 18 de março de 2012

O meu doping aos sete anos de idade

Sou um assíduo ouvinte da CBN, minha rádio diária de notícias.
Considero-a bastante esclarecedora em todos os pronunciamentos e notícias seguras e verdadeiras.
Confesso que às vezes, chego a incomodar pessoas da minha casa de diferentes idades e escolhas, tendo já adotado o uso do fone de ouvido para não trazer mal-estar aos que comigo convivem.
Minha esposa vive me alertando para que eu tenha cuidado com o fone no ouvido, que pode acarretar algum mal para o meu aparelho auditivo.
Infelizmente, não posso ficar sem noticiário, pois noticias dão vida e cor as nossas esperanças de uma realização, pois por mais insignificante que seja o homem, ele sempre buscará na vida, o interesse de viver saudavelmente, tanto profissionalmente falando, como dentro da própria família.
O noticiário de hoje se prendia ao doping no esporte e na ginástica olímpica, e existe nessa rádio, um experiente comentarista na área de interesses da saúde em geral, o Fernando de Sousa. Nessa hora eu fico sempre atento aos seus comentários corretos e seguros.
Com relação a esse assunto do doping, não julgou como de um valor criminoso, o fato de ser utilizado com freqüência pelos atletas, que aceitam usar determinados remédios, com o objetivo de fazerem crescer seus números de resultados em competições.
Muito inteligentemente ele afirmou na sua narrativa, que as autoridades esportivas, condenam determinadas providências médicas, que assessoram no mundo inteiro, vários atletas de diferentes modalidades e que nem sempre são corretas nas suas afirmações.
Eu, mesmo me considerando um leigo nessa área, também clamo para que observem bem o uso e o efeito de determinados anabolizantes, que não serão aqueles que são sempre usados em alguns casos, como sendo gatilhos faltosos, para se vencer em competições de grande monta, sejam elas ou não de fundamento regional ou internacional, mas sim, para dar proteção de saúde ao participante que se prepara para a competição e pode vir até a morrer se mal assessorado estiver por uma equipe médica, que não mantenha sob vigília os seus treinamentos técnicos e físicos, para o melhor resultado a alcançar!
E o comentarista Fernando foi além , citando que os índios em sua vida cotidiana, usam determinadas ervas para terem melhor disposição física para remarem suas canoas e percorrerem as matas em suas caçadas.
Aí então vem na minha historia, o meu doping aos sete anos de idade, quando um guia espiritual, deu para minha mãe uma receita que traria a mim a resistência física necessária, para eu ser uma criança feliz, para resistir as brincadeiras e ter memória necessária para os meus estudos. E este doping era constituído de um cálice de vinho do porto, acrescido de uma gema de ovo. Eu deveria tomá-lo durante sete dias seguidos, depois descansar mais sete dias, e tornar repetir a mesma dose, até assim completar sete vezes. Depois desse ciclo de sete dias eu estaria preparado para as brincadeiras e os estudos pelo resto da minha vida .
Aí então eu afirmo – esse não teria sido o meu doping de atletismo infantil, em que eu baseio a abertura dessa crônica ?
Vejam bem se eu não estou com a razão!

(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)

Fonte da imagem:bebervinho.blogspot.com

sábado, 17 de março de 2012

O Carnaval de rua de outrora

Era um carnaval de rua com mascarados. Ninguém brincava no carnaval sem máscaras. As famílias inteiras viviam, nessa época, um terror natural, haja vista que as máscaras escondiam os desafetos. Isso, por si só, me causava muito medo. Blocos inteiros de sujos de rua e mascarados, invadiam as nossas casas, para roubar comida, roupa e pedir dinheiro. Às vezes, até aconteciam crimes, e nesta época, eles eram facilitados a todos os desordeiros que, se utilizando do sigilo das máscaras, invadiam nossas casas até para abusar da dona de casa. Acintosamente, pediam dinheiro para as despesas do bloco, que ficava na rua de sábado até quarta feira de cinzas. Eu me lembro muito bem, que meu pai tinha o hábito de pendurar cachos de bananas na porta da sala, junto à passagem para a cozinha e normalmente, quando o bloco invadia a minha casa, eu dizia com os meus botões - lá se vão as minhas bananas! – Levei um longo período para deixar de ter medo dos mascarados, pois naquela época era uma facilidade as pessoas se vingarem umas das outras, fazendo-me crer que um deles, ao entrar na minha casa, poderia tirar a vida do meu pai ou abusar de minha mãe. Hoje eu reflito e acho que o Carnaval de rua terminou por que o nosso povo não sabia brincar de cara limpa. Ainda bem que ele terminou, pois na nossa era atual, com toda esta grande violência, com as drogas e com o tráfico e com a liberdade do uso fácil das armas de fogo, tudo seria muito difícil para nós. Como nos iríamos conviver, com todas estas ilegalidades mascaradas?
(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)
Fonte da imagem:qjmassacara.blogspot.com

sexta-feira, 16 de março de 2012

Os meus primeiros dias de aula na escola

Os meus primeiros dias de aula na escola, sempre me trouxeram problemas, por mais que fossem recomendados por minha mãe. Eu tinha apenas quatro anos e não conseguia definir direito o momento exato de atender ao pedido da professora para que me dirigisse à sala de aula. Apesar de minha mãe explicar diariamente que sempre que a professora chamasse os alunos do primeiro ano eu deveria subir, eu aguardava o chamado e não entendia porque não era chamado.A explicação para o fato era que a professora só usava a expressão, “ a primeira classe pode subir”, e eu ficava no pátio do Colégio, sozinho, esperando. Eu esperava que ela chamasse exatamente, como a minha mãe me dizia, e, com isso, sempre perdia a primeira aula. Quando chegava em casa e falava para minha mãe, ela não conseguia entender , até o dia em que eu usei a expressão da professora, comparando-a com a da minha mãe. Dessa forma foi desvendada a grande confusão e aí então, pude participar de todas as aulas, inclusive da primeira.
(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)
Fonte da imagem:blogdalazinha.com

quinta-feira, 15 de março de 2012

Mais um fato hilariante da minha infância...


Tinha eu apenas cinco anos e era assíduo frequentador do cinema “Penha”, onde eu sempre ia em companhia de minha mãe.Era um dos mais antigos do subúrbio e tinha o mesmo nome do bairro.Naquela época, sempre abusava do direito de realizar as chamadas sessões de promoções, apelidadas de “sessões do mizerê”.Essas sessões se davam normalmente, em todas as quartas-feiras da semana.Vivíamos um daqueles grandes momentos em que estava no auge os “musicais ” mais famosos do cinema americano.Eu e minha mãe íamos sempre acompanhados de minha tia Ormezinda e de sua filha Norma, pois ambas moravam na nossa casa.Resolvemos ir num determinado dia de estréia de um daqueles famosos musicais, que hoje não me recordo o nome, e naquele dia também se inaugurava o novo ar refrigerado do cinema.Os cinemas e grandes casas comerciais estavam começando a substituir os grandes ventiladores, que eram causadores de diferentes tipos de acidentes.Antes da inauguração, os amigos do bairro já comentavam e instruíam uns aos outros sobre o clima frio no ambiente.Amigos e familiares diziam para não esquecermos de levar os agasalhos, porque lá dentro as crianças poderiam não resistir.Loucos para experimentar a grande novidade, seguimos para o cinema, portando nossos casacos.Já na fila para compra dos ingressos, nos preparamos, vestindo os agasalhos, mas a Norma, muito teimosa, não quis vestir o seu.Adquirimos as entradas e caminhamos para o salão de projeção,pois o filme por ser estréia, tinha atraído um grande público.Eu e minha mãe, entramos na frente e a tela já exibia uma dança maravilhosa de Fred Astaire com sapateados e vedetes com suas plumas extravagantes.Minha tia, maravilhada, segurava a menina pela mão e com os olhos fixos na tela, sem se dar conta, gritava para a filha: “dança Norma”, “dança Norma”, “dança Norma”...Pudemos observar que ela tentava vestir o casaco na menina, mas presa pelo filme, ao invés de dizer veste, Norma!, dizia dança, Norma!, pois na tela, uma dança frenética, prendia a atenção total de qualquer expectador.Minha prima Norma, a cada grito da mãe, não entendia nada e muito nervosa, assustada e chorando, respondia para a mãe que não queria dançar.Nessa altura, toda a platéia já tinha os olhos fixos em minha tia, pois o fato estava atrapalhando a assistência. Não fosse minha mãe por um fim naquele diálogo louco entre mãe e filha, creio que um filme tão lindo, um verdadeiro musical da Broadway, passaria a ser uma comédia de Oscarito.

(Jorge Queiroz da Silva - julho/2009)

quarta-feira, 14 de março de 2012

Detalhes sobre o Dr. Serrote


Prosseguindo nas lembranças dos personagens inesquecíveis de minha infância, cito o brilhante, “doutor” Serrote.Aqui mesmo, já contei sua história, mas confesso que ela é bem gostosa de se repetir, por ele ter sido um super-herói do bem.Instintivamente, sem mandos nem comandos, era o responsável pela saúde das inúmeras famílias residentes do nosso bairro, a inesquecível Penha.Curava todo e qualquer tipo de doença, ajudando as famílias carentes daquela época, com o seu vasto conhecimento da flora.Fazia uso adequado das ervas, principalmente das medicinais, estudioso que era do assunto. Saía invadindo as florestas das cercanias e de casa em casa, ele oferecia os seus serviços médicos.O que mais impressionava às crianças, era a sua curiosa maneira de vestir,que tentei retratar no desenho acima.Se apresentava de calças cinzas listradas de preto, com camisa branca de colarinho engomado e com botões dourados. Trajava ainda um fraque negro e uma elegante cartola preta, cintada por um tecido brilhante na cor lilás, que ele dizia ser a cor da sua alma.Trazia sempre uma bengala com cabo de prata.Usava cavanhaque, óculos de armação escura e às vezes até um prateado monóculo.Não esquecia as luvas brancas e os anéis, com significados das correntes mediúnicas orientais, além de um grande relógio de bolso com uma grossa corrente.Em suas costas ele portava um saco de linhagem branco, totalmente cheio de ervas e dependurado em seu cinto, um brilhante serrote, sempre limpo, que era a sua principal ferramenta de trabalho.Era assim, que aquele ser “humano especial” cultivava a amizade de toda a rua e conquistava os olhares de todas as donas de casa.E as crianças então? Essas o viam como a um “Deus”.Era muito comum, eu ouvir a minha mãe e outras tantas dizerem: - quando o “doutor” Serrote passar por aqui, eu vou resolver o problema da sua doença - e eu, criança, dia a dia, só via aumentar cada vez mais, a minha admiração pela figura tão terna daquele homem diferente, para mim, o mais perfeito representante de Deus.Lembro como se fosse hoje do meu colega de infância, o mineiro Beni, que estava desenganado pelos médicos do Hospital Getúlio Vargas, porque ele tinha espetado um prego enferrujado no pé e foi vitimado pelo tétano.Quem o salvou com suas milagrosas ervas? o nosso doutor Serrote.Fez uma verdadeira poção com a mistura das suas ervas, como o óleo vermelho, o saião, a erva de passarinho e outra conhecida como erva silvina. e Naquela época em que a medicina homeopática ainda carecia de muito aprofundamento nos estudos, esse milagreiro tinha com ele a proteção de Deus!
(Jorge Queiroz - abril/2000)

terça-feira, 13 de março de 2012

A poesia dos trabalhos de rua

Eu ainda era menino , mas me lembro, da festa que era “o serviço público de rua”. A alegria que traziam as carroças de lixo, ainda puxadas a burro.Eu morava numa das primeiras casas da rua e sabia o nome de todos os burros que puxavam as carroças, e era lá que os garis faziam a ultima coleta do lixo.Na calçada da minha casa eles faziam a farra, pois era o último ponto.Eles dançavam e cantavam samba, batucando nos latões coletores de lixo, dando um verdadeiro show.Depois da habitual apresentação, eles olhavam para minha mãe, e diziam - ô madame, com todo o respeito, só faltava agora a senhora, dar para nós, aquela água bem geladinha, com bastante gelo, pois nos já demos o nosso espetáculo, senão amanhã a gente não volta, para recolher o seu lixo! –Sem falar dos outros serviços, de porta em porta, como o do peixeiro “Tião”, que trazia de tudo, camarões, peixes, siris, caranguejos.Contávamos também com o serviço do verdureiro , o senhor Manuel, que vinha com a sua carroça lotada de tudo muito fresquinho, porque naquela época, as feiras livres só se realizavam aos domingos. Tudo na carroça do seu Manoel era de alto zelo e muita qualidade.Tínhamos também a famosa “vaca leiteira” que trazia das vacarias o leite puro de melhor sabor e que ainda vinha quente das tetas das vacas. Sem nenhuma mistura de água, era o verdadeiro tipo “A”, que proporcionava a quem sabia fazer, uma manteiga excelente.O povo naquela época tinha um atendimento personalizado, e se por acaso, algum daqueles comerciantes, não dispusesse na hora do produto desejado pela dona de casa, ela podia se dar ao luxo de encomendar para o dia seguinte. Que tempo bom era aquele!.Na esquina da nossa rua, passava a principal via de acesso a antiga Rio São Paulo, a avenida Braz de Pina.Era a via turística existente, que nos levava para as cidades serranas, pois não tínhamos ainda a atual Avenida Brasil. Era por ali que passavam todos os ônibus que iam para Petrópolis e Teresópolis, assim como para o Espírito Santo, São Paulo, Bahia, e Minas Gerais.Por ali também transitavam os saudosos bondes elétricos, que faziam as linhas de Madureira e Vaz Lobo, transportando uma grande massa de trabalhadores e estudantes..Mas a minha alegria era mais forte, quando se iniciava a noite.Era o feliz momento de ver o velho trabalhador da iluminação das nossas ruas. - um alegre senhor, maduro e experiente - que trazia sempre uma pequena escada nas costas. Vinha acendendo as luzes da rua, que eram a gás de querosene, uma a uma, alongando assim um pouco mais os nossos dias.Outro grande sucesso, era o lindo cavalo branco, cujo dono era o “Sanam”, o mais famoso banqueiro de bicho da região, que tinha a casa mais bonita e rica da Rua. Com o jogo de bicho proibido, todas as vezes que a polícia vinha prendê-lo, ele gritava para o seu cavalo: - Garoto, olha a polícia!O cavalo vinha correndo para junto dele e ele de um só pulo montava, mesmo sem arreios e sela e saía correndo em disparada em direção a cancela de madeira que limitava a travessia da linha férrea.Ali “Garoto”, aquele lindo cavalo branco, dava um tremendo salto e atravessava a linha férrea, que era defendida por uma cancela.Assim o “Sanam” conseguia sempre escapar da prisão e da ação policial, deixando os policiais assustados e com caras de “brocoió” , como se chamava o bobo daqueles tempos.Toda a garotada vibrava feliz pelo desempenho daquele lindo cavalo, que mais se parecia com o cavalo Sylver do Zorro, o famoso herói do cinema americano.Mas a emoção da criançada era aguçada quase que diariamente, quando corriam as notícias de que o banqueiro de bicho “Sanam” iria se defrontar num duelo a bala, com o outro não mais famoso banqueiro, o contraventor “Arlindo Pimenta”, que atuava na região de Ramos, um outro bairro do velho Subúrbio da Leopoldina.Aquilo sempre cheirava a um bang-bang, do cinema americano, causando expectativas e movimentando o pacato mundo daquela época.Mas a guerra teve fim com o assassinato do “Arlindo Pimenta” por um dos capangas do valente rival, o banqueiro invencível, “Sanam”.
(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)

Fonte da imagem:blog.scudeto.com

segunda-feira, 12 de março de 2012

A quinta mala da vida

Finalmente, chegamos a fase da vida , em que acontecem as principais “malas” de decisão.Chamo-a de quinta e derradeira mala de vida.A “mala” da nossa formação escolar, do nosso currículo profissional, e, conseqüentemente, da escolha do nosso trabalho individual, que por certo irá definitivamente, marcar os caminhos a percorrer.Esta mala se evidencia num período que podemos considerar sem divisões.Essas divisões se referem ao estudo e a formação, ao esporte e lazer, ao namoro e casamento, à profissão e emprego, aos prejuízos e lucros e ao patrimônio e herança.O estudo e formação é a fase em que os indivíduos vão,com certeza, buscar as suas aptidões ou se espelharem em qualquer um outro indivíduo do seu grupo familiar, seguindo naturalmente a carreira de um pai, de um tio ou de sua própria mãe. Isso no entanto, não é uma regra geral, pois estou cansado de ver casos totalmente diferentes onde o filho de um médico, opta por ser piloto de avião, ou o de um pastor de igreja, cujo filho segue o candomblé.As outras divisões citadas estão interligadas no seu dia a dia e jamais poderemos fazer uma análise das bagagem que carregamos sozinhos, nesse momento de vivência. Em alguns casos, necessitamos até de analista para compreender uma bagagem tão vasta e complicada.A pior mala da vida inclusa nesse momento de vida, é certamente a chamada “mala dos vícios”. Ela é a principal responsável pelo sucesso ou insucesso de sua vida, haja vista que paralelamente segue as outras malas já citadas, exatamente no momento de suas atuações.O melhor seria hoje, que todas as pessoas seguissem o preceito de que a melhor das malas de vida que devemos portar é aquela na qual acomodamos a obediência, a disciplina, o respeito, a formação cultural, a vontade de viver, o otimismo, o bom senso e a valorização do nosso próprio “eu”.Creio que não devemos seguir por completo a mala de outra pessoa e sim tomá-la como exemplo para compor a nossa mala.Devemos ser “nós mesmos”, individualmente, e não seguirmos o forte desejo de incorporarmos em nós, um personagem já atribuído a uma outra pessoa. Hoje o mundo nos dá facilidades no seu desenvolvimento em tecnologia; o avanço da informática nos coloca a cavalheiros para acompanharmos todos os novos processos de qualquer trabalho e a velocidade da globalização, já nos oferece resultados que conseguimos em fração de minuto sabermos o que acontece do outro lado do mundo.Assim, temos a nossa mão exemplos variados e consistentes para formarmos a nossa verdadeira mala, optando e experimentando coisas saudáveis ou não.

(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)

Fonte da imagem:maisumaaline.blogspot.com

domingo, 11 de março de 2012

A quarta mala da vida

A quarta mala de nossa vida é uma mala de grande responsabilidade.Ela diz respeito à saúde e aos cuidados pessoais, e envolve a nossa caminhada e estadia na terra. E como compreender que esta mala é com certeza, uma “mala hereditária”?Ela já esta amarrada e depositada em nossos genes, ela faz parte do nosso sangue, ela se liga às nossas imperfeições ósseas, elas herdam sinais, e complicam por demais a vida do seu portador e carregador. Este, coitado, só vai prestar atenção nas deficiências, quando na fase adulta. Sempre carreguei esta “mala” com muito cuidado, pois eu não conseguia entender a morte prematura do meu pai, um homem cheio de saúde, que deixou a vida aos 37 anos de idade, sem nunca ter tido uma gripe sequer.Partindo daí, eu iniciei um processo de observação sobre as coisas da minha “mala de saúde”, eu não acreditava que a carregaria por mais de 37 anos.Juro que fiquei complexado ao sentir que o meu gigante de saúde, tinha desabado com uma bagagem tão notória de proteção corporal.Fui então analisando tudo, com muita calma, e senti e intui,que todos os males de saúde, que me levariam a sucumbir, assim como a meu pai, prematuramente, seria com certeza por deficiência da circulação sanguínea. Arquivei esses pensamentos na memória e ninguém me fez pensar diferente.Observei que tudo o que ocorreu a meu pai, foi relativo a problemas do seu aparelho circulatório.Sua alimentação era básica da comida típica do nordeste, pois ele era pernambucano, acostumado a saborear as famosas buchadas e o tradicional sarapatel de carne de porco, bem como uma deliciosa carne seca assada, com uma espessa farofa de mandioca, carregada em ovos. Todos estes pratos bem dosados de um forte colesterol. E ainda por cima, diariamente, fumava dois maços de cigarros.O fumo, na época, era considerado um vício pouco combatido pelas autoridades médicas, visto que não era para qualquer um conseguir fumar um cigarro, onde até o fumo de rolo era usado freqüentemente por algumas mulheres.Meu pai fumava um cigarro fortíssimo que era vendido em carteiras glamorosas, o tradicional Jóquei Clube e fazia um uso inteiramente sem ponteiras ou filtros além do que, como todo bom carioca, socialmente tomava uma boa pinga.Gostava ele mesmo de preparar suas refeições e tudo isso, naquela época eram costumes brasileiros, que todos tinham sem nenhuma defesa médica, pois a nossa medicina ainda engatinhava nas descobertas.Nesse ano de 1946, por todas estas causas e deficiências do controle dos serviços de saúde, ele veio a falecer. E por este motivo, eu sempre procurei buscar na circulação sanguínea, a minha defesa pessoal.Hoje já passando dos 75, já estou acima dos meus objetivos esperados, e não sei até aonde chegarei, mas sei que levarei comigo diariamente na minha bagagem, sempre uma “aspirina e uma castanha da índia”, que me fazem companhia de segurança e me fazem acreditar que estou diariamente seguro na organização da minha “mala de saúde”.Espero que este meu comentário não venha a servir de receita para ninguém, pois já enfartei .Esse incidente mudou totalmente a minha anterior mala de saúde, pois não me sinto ainda garantido, depois do meu enfarto. Faço caminhadas e ginástica rítmica e estou sempre acompanhado do meu “captopril e do meu liptor”, os meus perenes guarda-costas.Já dobrei a idade de vida do meu pai, acabando com a minha cisma de que eu não atingiria jamais os 37 anos.Observem portanto com cuidado, a sua mala de saúde, pois ela é e será sempre de vital importância, dentro da nova escola médica brasileira!

(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)

Fonte da imagem:jf-forninhos.pt

sábado, 10 de março de 2012

Minha terceira mala de vida

A terceira mala de vida que também nos dá muito peso, é exatamente aquela que decide qual a “crença” que vamos receber – se a católica, a espírita, a judaica, a ortodoxa, a batista, a evangélica, a eclética, a carismática, a maçônica - porém, pela formalidade dos sistemas de educação religiosa da família, os filhos recebem dos seus pais a orientação sobre qual deverá ser sua bagagem religiosa.Eu, por exemplo, ainda me lembro que minha mãe era uma adepta do espiritismo, mas que por total interferência da minha escola, ela foi obrigada socialmente, a me indicar para a religião católica, o que me causou, um “nó” nas idéias, visto que eu, normalmente, assistia em minha casa às sessões de reuniões espíritas, comandadas por ela e por seus guias, que faziam a sua doutrina ligadas a uma corrente Indiana, se utilizando de magias e das visões futuras.Por isso eu confesso que essa mala foi dura de arrumar, pois o meu curso de catecismo, me fez fazer seguidamente, quatro comunhões, e eu ainda com oito anos, tinha que conviver com o conselho passado pelo Padre e com a fé que me era transmitida pelos guias de minha mãe, caboclo “Ubirajara”, cabocla “Jurema”, Pai “Joaquim”, “Ogum Beira-mar”, “Mamãe Oxum”, “Sete Encruzilhadas” e os “ Êres”, e ainda fazer as comparações infantis, entre o defumador da Igreja e o defumador do terreiro de minha mãe!Vejam vocês que “mala” espiritual me arranjaram!Mas hoje, graças a Deus, eu consegui conciliar todas essas dúvidas e certezas na minha cabeça, e por este motivo coloquei nesta “mala”, uma crença múltipla, e por esse motivo, mesmo não sabendo para onde vou após a morte, sei que chegarei com a minha bagagem de um camelo de crenças, sempre disposto a conversar com o Bispo ou com o Papa, com Deus ou com o Demo, com o Pastor ou com o Esotérico, com o Judeu ou com o Ateu, sem qualquer preconceito.

(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)

Fonte da imagem:lembrancasdoquevivi.bl...

sexta-feira, 9 de março de 2012

Minha segunda mala de vida

A minha segunda mala é aquela que vai nos acompanhar por todos os caminhos na vida, o da nossa verdadeira identidade.Para mim, seria a minha certidão de nascimento, que vai dar a etiqueta de identificação.No entanto meu pai, por ser um homem totalmente contrário as burocracias e a tudo que dizia respeito a documentos, o que abominava, quando eu nasci ele não se deu conta de que teria que providenciar o meu registro.O tempo foi passando e naquela época, há mais de setenta anos atrás, íamos para a escola muito cedo. Só aí quando eu já contava quatro anos e minha mãe foi me matricular, surgiu a necessidade da certidão de nascimento.Instalou-se assim o problema. O nosso Governo obrigava o pagamento de uma multa aqueles que não registrassem os filhos, num prazo de seis meses.Por esse motivo, o meu registro só foi feito, seis anos depois, quando o presidente Getúlio Vargas, concedeu o perdão dessa multa para todos os brasileiros.Acredito que isso ocorreu não tanto por dificuldades financeiras, mas porque meu pai, que abominava imposições, achava inconcebível pagar a tal multa.Talvez seja também por isso, que até hoje, eu também dou mais valor a palavra do que ao papel, seguindo assim, os prenúncios de meu pai.Não posso negar que isso, ao longo da vida, tem me trazido alguns problemas. Mas não importa.Hoje, com tudo normalizado, eu até já esqueci, mas com certeza, essa foi a segunda “mala” da minha vida, que só foi resolvida pela imposição da formação da vida de um ser humano, o estudo!Hoje, as coisas são mais fáceis de resolver, o Governo já mudou inteiramente esse quadro, e tem facilitado a vida dos mais pobres, inclusive, para moralização do senso, ele obriga aos cartórios de registro a não cobrarem taxas, para uma certidão de nascimento. Mas as coisas vão mais além, e as “malas” de vida não nos abandonam e temos a obrigação, de portar a mesma até os últimos dias da nossa vida.

(Jorge Queiroz da Silva -abril/2009)

Fonte da imagem:dicasdiarias.com

quinta-feira, 8 de março de 2012

A primeira mala da vida

Quando por um acaso, ainda me chamam de “mala”, eu simplesmente não me contrario, pois sei que tudo que acontece em nossa vida, diz respeito realmente a “mala” que recebemos ao nascer e a uma outra “mala” que vai ser responsável pela nossa última viagem, aquela em que reunimos todos os projetos que regeram os nossos destinos de vida, aqui na terra.
A primeira mala nos diz exatamente sobre a nossa perspectiva de vida, porque quando nascemos e quando recebemos a nossa primeira mala, ao analisarmos o seu conteúdo, ele por certo nos indicará as facilidades e as dificuldades que se apresentarão ao longo do nosso caminho.

Não posso esquecer, que quando nasci, filho de família pobre, minha mãe preparou a minha primeira mala de vida para me receber e num processo cuidadoso e de muita luta para que nada me faltasse, ela conseguiu reunir as principais peças de roupas, para o meu agasalho, e dito por ela, a maioria delas, teriam sido doadas, pela nossa vizinhança.
Tudo parecia perfeito, eu já tinha a minha primeira mala de vida e minha mãe aguardava bem segura, a minha chegada. Mas, infelizmente, nem tudo que se planeja acontece, e por obra genética, eu nasci fora dos moldes normais de um recém nascido.
Cheguei ao mundo com 55 cm de comprimento e o peso de uma criança de três meses, pois eu nasci com 5,2 gramas.
Por aí já sentimos, que a minha primeira mala de roupas e agasalhos , não funcionou!
Mas minha mãe, era uma filha do otimismo e rapidamente, conseguiu a ajuda de uma senhora de origem Libanesa, e que por sinal, minha mãe só a chamava, por não saber seu nome, de “Dona Libânia”.
Essa senhora residia na última casa da Vila onde morávamos e conforme minha mãe contou depois, foi essa mesma senhora, que lhe deu um prato de bacalhau, que havia lhe despertado desejos de comer, antes do meu nascimento.
Para que eu não nascesse babando ou com os cabelos arrepiados, a “Dona Libânia” foi muito gentil com a minha mãe, dizendo que se ela tivesse mais algum outro desejo provocado pelo cheiro saboroso da sua comida , que ela não fizesse cerimônias, garantindo assim que não deveria me aguardar com desejos não realizados.
E assim então, minha mãe , que na época tinha apenas quinze anos, venc eu a primeira etapa de dificuldades da minha vida, pois além de comida, minha mala ganhou roupas também!
(Jorge Queiroz -abril/2009)
Fonte da imagem:numacaixinhademusica.blogspot.com

quarta-feira, 7 de março de 2012

Minha simpática convivência com meu tio Nilo

Meu tio Nilo foi um dos meus sete tios. Tendo nascido de parto prematuro aos seis meses de gestação, teria menos possibilidade de viver com saúde, ainda mais numa época em que tudo era muito complicado. Como dizia minha mãe, nascer era tão problemático, como morrer. Lembro que nas historias de família, mamãe contava que o seu primeiro berço foi uma caixa de sapatos, pois como prematuro de extremo risco, necessitava de cuidados muito especiais para sobreviver. Podemos imaginar a dificuldade da família para que na altura dos seus vinte anos, sem qualquer recurso especial, ele pudesse ser considerado uma pessoa de saúde normal. No entanto, de todos os meus tios, era o mais inteligente, embora tivesse o menor grau de instrução. Em compensação, foi durante toda a sua vida, o melhor dos tios e o que mais valeu à minha mãe, sendo sempre o seu fiel escudeiro. Morou em nossa casa até o término da sua vida e era um ser bem diferente dos demais. Não tinha muito juízo, mas alegrava todos os nossos almoços de domingo, com suas brincadeiras e grande otimismo. Era quem ajudava financeiramente a minha mãe, visto que a contemplava com um pouco do resultado das gorjetas que recebia. Assim, agradava minha mãe pelos cuidados especiais que lhe devotava com o bom trato de suas roupas e com sua alimentação. Aliás, minha mãe tornou-se sua protetora, desde a morte de minha avó. . Na época, apesar da pouca idade em relação a ele, sempre cuidou , para que ele pudesse ter algum rendimento, que lhe garantisse o dia de amanhã. Deu-lhe algumas idéias para que pudesse ter algum dinheiro, um ganho como autônomo, pois era um participante ativo, das nossas noites cariocas, no Edifício Avenida Central, na Avenida Rio Branco. Sempre nos dias de Natal e Ano Novo, ele fazia questão de brindar a todos, com uma pequena lembrança, e não nos poupava dos seus famosos e engraçados discursos otimistas, onde sempre dizia, que todas as pessoas daquela mesa de ceia, um dia ainda iriam se banhar em muito dinheiro! E era aquela saudação na passagem de cada ano, que sempre nos trazia alguma alegria, porque, em segundos, ele nos transformava em raros milionários na sua forma otimista de nos ver, falando com bastante ênfase, de pé, na cabeceira da mesa de Natal. Não possuía nenhum certificado escolar ou profissional, apenas uma carteira de identidade, mas, mesmo assim, conseguia ganhar dinheiro como ninguém. Causava inveja a muitos chefes de família, com os ganhos recebidos com um sub-emprego, o de abrir as portas dos carros, na entrada do Jóquei Clube do Brasil, na sua antiga sede na Av. Almirante Barroso. Era um guardador dos carros oficiais, que naquela área, ficavam sob sua responsabilidade. Trabalhou ali, por mais de trinta anos. No exercício do seu trabalho, teve a oportunidade de se aproximar naturalmente, de todos os Ministros, Juízes, Senadores, Deputados e até mesmo, do Presidente da República, o Getúlio Vargas, chegando, nessa oportunidade a abrir as portas do carro do consulado Americano, que conduzia o Presidente Roosevelt, freqüentemente no Brasil, faturando a sua primeira gorjeta em dólares. Também servia nas portas dos Clubes, inclusive o Clube Naval. Era muito o que ganhava com as gorjetas, abrindo as portas dos automóveis luxuosos dessas autoridades, visto que empatizava com todos. Minha mãe sempre dizia que se ele tivesse tido juízo, teria feito um excelente pé de meia. Por trabalhar na rua e devido a sua grande facilidade de ganho, dele se aproximavam também as prostitutas, os homossexuais, os mendigos e os cachaceiros das noitadas, que se faziam de amigos, para o levar para beber, com a finalidade única, de lhe tomar dinheiro. Ele se trajava sempre com roupas de primeira qualidade, e o interessante é que nunca gastou o dinheiro do seu trabalho, para comprar suas vestimentas e sapatos, pois ganhava daquelas autoridades. Às vezes, com orgulho, exibia um par de sapatos que não usava em respeito ao dono, o Getúlio Vargas. Infelizmente, a bebida que lhe faziam pagar na rua, não só prejudicava no resultado do seu trabalho e ganho, como também, o levavam a um estado de total embriaguez, que o fazia até dormir pelas calçadas da Cidade. Quantas e quantas vezes eu, ainda menino, com muita pena, tentava lhe levantar do chão frio e até molhado pela chuva. Quando ele conseguia chegar em casa, normalmente estava totalmente sujo, o que causava um impacto pela desconexão com sua roupa alinhada . Cheirando mal, levava minha mãe ao desespero, quando entrando pela porta da nossa casa a dentro, gritava por ajuda, fingindo estar sendo vitima de forte dor de barriga. Lembro-me de minha mãe clamando pelo Deus do Céu, Jesus Cristo e Nossa Senhora, enquanto mandava que ele fosse direto para o banheiro, pegasse as roupas e as jogasse no molho direto no tanque de roupas, para que depois cuidasse delas. Mesmo assim, com todas as dificuldades de vida, ele sempre foi, dos meus tios, o mais honesto, o mais consciente com a minha mãe, aquele a quem eu mais respeitava e com quem mais conversava. Recordo-me de que me trazia balas e pequenos brinquedos, ajudava ainda nas compras de meus cadernos e livros escolares. Era dono do maior otimismo de vida, pois a convivência que ele manteve com autoridades e políticos, sempre o levaram ao delírio! Foi um importante personagem na minha vida infantil, que me fez ouvir pela primeira vez o nome de milhões de contos de reis, a moeda da época, muito difícil de se ganhar. Duvido muito, se qualquer outra pessoa, que mantivesse um papo com ele de, pelo menos dez minutos, não passasse a se sentir um grande milionário ! Lembro também, que às vezes, meu pai, muito nervoso com suas histórias, queria expulsá-lo lá de casa, principalmente por ele fazer minha mãe passar por todos aqueles momentos inconvenientes. Eu era ainda um menino e a historia mais incomum que ouvi a seu respeito foi aquela, em que ele, na tentativa de imitar os guias espirituais de minha mãe e de outras pessoas que eram ligadas à religião, se instalou na casa de uma mulher de vida fácil. Lá longe de nossa casa, na Baía da Guanabara, se fazia passar por um guia conselheiro, incorporando simuladamente o “Caboclo Mamador” , que baixava dizendo - Caboclo, mamador, Caboclo, quer mamar - e só atendia as mulheres, mais jovens residentes naquela região, onde ele era totalmente desconhecido, Além de ganhar pelos trabalhos, ele ainda criava em volta dele, um circulo só de mulheres jovens, que curiosas e ansiosas para obterem os milagres de vida, em relação a casamento, obedeciam as suas ordens quando pedia que colocassem seus seios para fora. E ele saia mamando e repetindo que ao mamar, ele traria bons fluídos às consulentes. Daria força às mulheres para arranjar um bom casamento com um rico pretendente ou um bom emprego. E eu só vim a saber dessa história, depois que os jornais de Niterói noticiaram a fama do caboclo mamador. Não preciso dizer que ele foi detido, os jornais fizeram publicação a respeito, mas felizmente para ele, por ser réu primário, foi liberado pela policia, depois que fizeram o pagamento da fiança. Portador de leve deficiência mental, uma leve esquizofrenia, foi ainda apoiado pela própria justiça, que classificou as mulheres, que lhe deram o seio para mamar, de sem-vergonhas, inexperientes, frizando que elas colaboraram diretamente, para que ele se utilizasse daquela farsa espiritual ! Lembro também da tristeza de minha mãe, quando soube das noticias que corriam nos jornais. - repetia sem parar : que vergonha, que vergonha, meu Deus! Não sei o que fazer com o Nilo! Desse dia em diante, o tio Nilo, passou a ser um homem mais caseiro, deixando que as prostitutas do centro da Cidade, tomassem conta do dinheiro de seu trabalho honesto, como recepcionista das autoridades de Governo.
(Jorge Queiroz da Silva - agosto/2010)
Fonte da imagem:sejacritico.wordpress.com

terça-feira, 6 de março de 2012

Minha tia Jandira

Falo hoje da minha tia “ Jandira”, que era minha madrinha, casada com meu tio Arnaldo.Apesar de muito pequeno, lembro que ela passava temporadas em nossa casa, com os seus três filhos, Maria Amélia, Ailton e Francisco. Isso se dava sempre que ocorria uma das constantes transferências de trabalho do meu tio Arnaldo.Ele, que naquela época, era o Chefe Geral das Águas no Estado do Rio de Janeiro, e tinha sob seu serviço a implantação do projeto de base do Rio Guandu e de Xerém, não conseguia ter uma residência fixa, pois era obrigado, a acompanhar os deslocamentos de toda a rede de ampliação do sistema de distribuição de águas da cidade, como também a do interior do Estado. Ainda para agravar o problema, em cada cidade que o meu “tio”, se instalava, ele conquistava uma nova mulher, montava uma nova casa, e a pobre da minha tia “Jandira”, ficava longos períodos em nossa casa.Recordo-me que minha mãe, penalizada, sentia-se na obrigação de ajudar a essa cunhada.Isso era próprio de minha mãe, que associava ao nosso convívio, mais e mais famílias.Nossa casa mesmo sendo grande, como as residências daquela época, cada vez mais se tornava pequena, pois já existiam outras pessoas ali abrigadas, na casa e no grande coração de minha mãe.Como nunca nada é para sempre, felizmente, essa situação de dividir tudo com meus primos, só veio a se modificar, no dia em que meu tio Arnaldo faleceu.Assim, minha pobre tia pode, como pensionista, viver bem e ter uma residência fixa, aqui no Rio de Janeiro, onde nós a visitávamos nos finais de semana.

(Jorge Queiroz da Silva - abril/2009)

Fonte da imagem:borgesresgate.blogspot...

segunda-feira, 5 de março de 2012

Foi muito legal te conhecer vivo, meu pai!

Meu pai, já fazem mais de 53 anos e ainda te sinto vivo.
Confesso que nos separamos há mais de meio século.
Sei que você não morreu e está bem vivo dentro de mim.
Hoje brilham em minha cabeça as luzes de uma grande soma de esperanças.
Escrevo hoje, o que já deveria ter feito há muitos anos. Tento colocar a minha emoção e buscar nos poucos anos que tivemos juntos aqui na Terra, todos os exemplos de vida que você me passou.Lembra, meu pai, quando me contou os principais motivos que o fizeram deixar a sua Olinda querida, no bairro de “Casa Amarela” em Recife, com apenas quatorze anos de idade? Que força de vontade trazia aquele menino para enfrentar a vida numa Cidade grande e politicamente vigiada por ser a Capital da República do Brasil! Aquela história de que a sua família era densa eu comprovei pelo retrato de casamento da sua irmã mais velha. Ali estavam reunidos meus avós que não pude conhecer, meus tios e tias, ao todo uns quinze componentes. E você deve estar lembrado, que me contou, que o meu avô era um homem de uma estatura impressionante, para o brasileiro daquela época, pois ele atingia 2,15 metros.E ainda por cima, me disse que ele dava espetáculos em praça pública, deitando-se no chão e cobrindo-se de pranchas de madeira. Sua exibição consistia em que os carros da época passassem sobre o seu corpo demonstrando uma força de um “Hércules”. E ainda acrescentou que ele foi assassinado por um dos invejosos daquela Cidade, porque em razão do sucesso, ele era desejado por quase toda a maioria das mulheres.Isto provocava um grande ciúme nos maridos que se achavam preteridos. Algum deles, mais enciumado acabou por matá-lo a tiros, em plena praça pública.Foi aí então, que se iniciou a sua via crucis, pai. Você foi obrigado a morar com o seu irmão mais velho já casado e a sua vida não teve mais sossego, pois apanhava muito desse irmão. Você foi obrigado a deixar a cidade sozinho, para se ver livre dos maus tratos. Aqui chegou ainda menino, se empregando em uma padaria no bairro do Rocha aqui no Rio de Janeiro.Ali mesmo, com o consentimento do seu primeiro patrão, fez dos sacos de farinha a sua cama e casa, e ali trabalhava entregando pão, pela madrugada afora.Essa foi sua dedicação para a vida, que enfrentou sem medo, até os dezoito anos.Teve outra oportunidade de trabalho, quando foi convidado pelo dono de uma garagem vizinha, a ser seu novo empregado, e a partir dos seus vinte anos de idade, recebeu o apelido de “Paulista”, apesar de ser pernambucano, mas oriundo do Município, que tinha o mesmo nome.Ali você cresceu profissionalmente, tendo sido o homem de confiança, controlando todos os estoques de combustíveis durante a Segunda Guerra Mundial e sempre com muita honestidade, não se deixou levar, pelo câmbio negro da gasolina, que se implantava naquela época dos carros a gasôgenio, nunca tendo se favorecido da sua posição, pois a lei determinava, que a venda e o fornecimento de gasolina, só poderiam ser feitos às autoridades públicas e às áreas de saúde. Sua grande honestidade e lisura não o fez ficar rico ilicitamente, apenas ficou amigo de brasileiros ilustres. E como prêmio, por essa honestidade no seu trabalho, ganhou do seu patrão o título de sócio-gerente, que nem chegou a exercer, pois foi da vida afastado, provisoriamente pelo nosso bondoso “Deus”.Talvez quem sabe, para uma missão muito especial, que ainda vou com certeza saber o motivo futuramente, depois de lhe dar um longo abraço fraterno.Devo acrescentar, que nesse caminho de 23 anos aqui no Rio, você incluiu em sua vida uma fluminense nascida em Niterói, que por força do destino, também era órfã de mãe e que tinha por necessidade residido na casa da sua cunhada com o seu irmão mais velho e que por coincidência, também sofria maus tratos, após o seu pai ter sido afastado, por motivos políticos, do cargo de Diretor-Tesoureiro Geral dos Correios, que ocupava na então Capital Federal pela convocação feita, pelo Dr. Washington Luiz, o então presidente da República.Ela, minha mãe, sofreu também iguais dificuldades de vida, quase que as mesmas coisas que você.Você sabe bem dessa história, meu pai. Ela me contou que a necessidade em casa era tanta, que ela começou o namoro contigo e que você a conquistou, quando lhe deu um pacote de manteiga, que ela já não comia há muitos anos, pois quando o pai dela, o meu avô, foi afastado do cargo que ocupava, ela perdeu uma boa casa, instrução, o estudo de piano, suas roupas, suas bonecas, e sua formatura de professora, que só faltava um ano para completar.Mas o exemplo de vida a dois, ficou estampado nessa união e hoje me sinto feliz, muito feliz, em ter sido filho único de uma tão completa união a dois, que hoje tento reproduzir com a minha cara-metade, que representa grande incentivo de novas descobertas porque a manutenção de vida é um ato contínuo e sem desprendimentos.Minha grande intenção para o fim da minha vida, quando ela chegar, meu Pai, é te encontrar e sei que estará junto à minha mãe, que já se acha ao seu lado há algum tempo.
Espere por mim, meu pai !
(Jorge Queiroz - junho/2010)
Fonte da imagem:revistadesafios.blogspot.com